
Numa manhã do dia 31 de agosto de 2001, o então capitão da Tropa de Choque Osvaldo Luiz Sorge voava em uma viatura da PM perseguindo quatro ladrões em fuga pela Rodovia dos Bandeirantes. Os policiais pegaram um desvio no km 36 e deram de cara com o carro dos bandidos vindo no sentido contrário. Levaram 13As balas que vieram em minha direção não ultrapassaram o pára-brisa. Foi um livramento. Glória a Deus”, afirma Sorge.
Evangélico há dez anos, crente em milagres cotidianos de Jesus Cristo,
Para contornar a crise que ainda ferve no 18ª, Sorge tenta investir na “transformação” do batalhão. “Todo rebanho tem ovelhas desviadas. Trabalhamos para que elas sejam alcançadas e curadas. Só assim marcharemos de cabeça erguida. As notícias sobre o envolvimento de policiais do 18ª são um combustível que aumenta minha vontade de esclarecer os fatos.”
No trabalho para “endireitar” o caminho dos policiais desviados, desde janeiro, o 18ª BPM conta com a ajuda dos PMs de Cristo – grupo de policiais evangélicos que levam “a palavra de Deus e apoio para os soldados do 18ª”. “É um projeto piloto,que começou a pedido do próprio Coronel Hermínio, poucos dias antes de ele morrer. Por enquanto, estamos em uma companhia do 18. Vamos chegar às quatro (companhias). Depois, treinaremos novos capelães para reproduzirem esse modelo nas mais de 400 companhias da PM do Estado”, diz o major Alexandre Terra, um dos organizadores do projeto. Com o aval do Comando-Geral e do governo estadual, os PMs de Cristo realizam o trabalho espiritual no 18ª fazendo três visitas por semana. São quatro capelães, todos civis, treinados para falar sobre religião com os militares. Eles aprendem, por exemplo, que não se deve gritar “glória a Deus” em um quartel. Jogar sal grosso nas viaturas nem pensar. O capelão deve mais ouvir do que falar e nunca pode se esquecer de pedir a autorização do comandante para iniciar a pregação. Os PMs de Cristo chegam ao 18ª durante a troca dos turnos e falam com os policiais por cerca de dez minutos.
Em um dos encontros, acompanhado pelo Estado, a Pastora Vania Menon, capelã do grupo, falou sobre o ofício do policial. “Você se enfrentam perigos e arriscam a vida para nos defender. São nossos heróis. Em troca, estamos aqui para oferecer apoio a quem precisar. Quem quiser, estaremos esperando do lado de fora para uma conversa”, diz a pastora, que também oferece seu telefone pessoal para qualquer pedido de socorro.
A estratégia é tentar “amolecer os corações embrutecidos” dos soldados do 18ª. Resgatar princípios que são perdidos na dura realidade das ruas. Os resultados, garante o comando, já começaram a aparecer. O subtenente Passos conta que os PMs de Cristo conseguiram “abrir o coração do sargento Elber para as palavras de Deus” pouco antes de o policial ter a prisão temporária decretada por suspeitas de participar do grupo de extermínio na zona norte. “O tempo dele na cadeia agora é determinado pelo Pai.” Já o cabo Bonfim pediu ao grupo que visitasse sua irmã, doente, em estágio terminal de câncer. A família do cabo estava desestruturada. Os PMs de Cristo foram à casa dele. A irmã de Bonfim morreu na quarta-feira. No enterro, coube ao coronel Sorge transmitir uma mensagem religiosa aos presentes.
Sorge garante ainda que recebeu o dom da sensibilidade para sentir os dramas dos soldados que comanda. Ele conta que, certa vez, um policial sentou-se em uma cadeira em frente a ele com o semblante carregado. “Ô, menino”, disse o coronel, com o sotaque carregado de Presidente Venceslau, no interior do Estado, onde nasceu. “Não quero te enterrar amanhã.” Em seguida, o PM, emocionado, confessou que estava com pensamentos suicidas. “Deus tem poder. Glória a Deus”, completa o coronel.
Fonte: http://artureduardo.blogspot.com